Geriatria: uma especialidade estratégica para o Brasil do século XXI

A população de 60 anos ou mais no Brasil passou de 15,2 milhões em 2000 para 33 milhões em 2023, quase duplicando em pouco mais de duas décadas, segundo o IBGE. No mesmo período, a

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Geriatria uma especialidade estratégica para o Brasil do século XXI

A população de 60 anos ou mais no Brasil passou de 15,2 milhões em 2000 para 33 milhões em 2023, quase duplicando em pouco mais de duas décadas, segundo o IBGE. No mesmo período, a proporção de idosos (60 anos ou mais) na população brasileira cresceu de 8,7% para 15,6% e a idade média aumentou de 28,3 anos para 35,5 anos. Por volta de 2030, o número de idosos deve se aproximar da marca de 41,5 milhões, tornando-se o maior grupo etário no país.

Essa alteração na pirâmide etária – até o final do século passado o Brasil era um país “jovem” –  gera a necessidade de novas políticas públicas e ações intersetoriais para atender às demandas e combater as desigualdades sociais e violações contra a pessoa idosa, como o idadismo, por exemplo. 

Já na área da saúde, o desafio é ampliar o alcance do conhecimento existente na área de geriatria e gerontologia, principalmente junto às demais especialidades da medicina. “É muito importante que os clínicos gerais, os médicos de família, os cardiologistas, os neurologistas e os psiquiatras, para citar somente alguns exemplos, tenham noção das patologias e questões relativas à velhice e ao envelhecimento, para que possam lidar adequadamente com as particularidades clínicas relacionadas aos idosos”, explica Dr. José Carlos Aquino de Campos Velho, médico geriatra especialista do MindsMeet. 

Esse manejo adequado vai além dos diagnósticos específicos. As situações envolvendo idosos incluem frequentemente questões como polipatologia e polifarmácia, cenários que fazem parte do cotidiano da geriatria. “Síndromes como imobilidade, iatrogenia, incontinência são problemas que enfrentamos, em nossa busca por manter a capacidade funcional, autonomia e independência do idoso, na medida do possível”, relata o especialista do MindsMeet.  

“Entendo que um dos papéis da geriatria é educativo, na medida em que, do ponto de vista populacional, é impossível imaginar, hoje, que todo idoso no Brasil terá um geriatra como seu médico de referência. Por isso a necessidade de ampliarmos o espectro do conhecimento nessa área.”

Transição demográfica e transição epidemiológica

A colocação faz todo o sentido, em um momento de transição demográfica e transição epidemiológica. “A transição demográfica está relacionada a uma situação de baixa fecundidade, com aumento do número de pessoas mais velhas, particularmente as muito idosas. Esse fenômeno vem acompanhado de uma transição epidemiológica, em que as doenças infectocontagiosas muitas vezes dão lugar a doenças crônicas não transmissíveis, que modificam o perfil epidemiológico da população. “Então, praticamente todas as especialidades médicas terão que lidar com essa questão do envelhecimento populacional, e isso terá impacto na prática desses profissionais”, afirma o geriatra. 

Para o Dr. José Carlos, a essência da geriatria, enquanto especialidade médica, é multiprofissional e, assim, recorre com frequência a outros profissionais para possibilitar um cuidado mais holístico ao idoso. “É importante ressaltar que não existe uma hierarquia entre o geriatra e os demais profissionais de saúde”, prossegue. “Nossa relação com fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, dentistas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais é muito mais horizontal. Cada um tem o seu conhecimento específico.”

Para onde caminha a geriatria?

Mais do que cuidados provenientes de diferentes especialidades médicas e correlatas, o bem-estar e a qualidade de vida dos idosos dependem de uma abordagem interdisciplinar. Dr. José Carlos chama a atenção para a importância de se estabelecer planos e metas que sejam consensuais entre os diferentes profissionais. “A prática interprofissional é a prática geriátrica e gerontológica mais completa e mais complexa”, argumenta. “A grande dificuldade é que são poucos os serviços que oferecem a possibilidade de uma interdisciplinaridade concreta e real. Em alguns serviços acadêmicos, é possível encontrar situações de interação e interdisciplinaridade, mas em momentos específicos, como reuniões para tratar de determinado caso, a partir de diferentes olhares. Essa prática deveria ser mais frequente e generalizada no universo do atendimento e cuidado ao idoso.”

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